Húmus, de Raul Brandão, 1917

HúmusHúmus by Raul Brandão

Este livro abre com a enumeração das velhas. A D. Engrácia, a D. Restituta, a D. Procópia, a D. Felizarda… As velhas não são más, mas têm atrás de si séculos de ruína e destroços. O que mais odeiam no Gabiru é a sua imensa capacidade de sonho, do sonho que vale a vida.

As velhas são a vida, a vida estragada, a vida não vivida. O que mais lhes custa perder são os hábitos. As velhas são poeira inútil que foi dor. O seu corpo pede-lhes terra.

Quem assim fala é a morte, o mais belo, o mais tremendo, o mais profundo dos mistérios. A que tem as perguntas vivas, a que se interroga sobre Deus, a que reclama ser Deus a maior conquista dos homens. Aquela que é o monólogo narrador deste livro.

A que gostaria de ser humana, de ser Gabiru e acreditar nos sonhos. Acreditar em algo, em Deus e Se Deus existe eu sou um homem – se Deus não existe eu sou outro homem completamente diferente. A morte sabe que a vida é muito mais longa pelo lado dos sonhos do que pelo lado da realidade. A vida gasta num segundo, a morte na sucessão ininterrupta dos séculos, indiferente e eterna. A que nunca se extingue. As velhas repetem-se, decerto não passam de eco.

Gabiru é a única parte do seu ser que lhe interessa, a única parte do seu ser que abomina.

A morte vacila, sofre, atravessou viva o inferno, é aquela que ninguém detém, a que anda à solta. Até agora supunha-me tudo, eu e Deus, eu e a mão enorme que me conduzia e amparava.
Gabiru assegura-lhe a impossibilidade do outro mundo, é ele quem torna as coisas etéreas visíveis, que lhe segreda ser a morte quem faz falta à vida.

Os corpos das velhas pedem-lhes terra.

Estamos aqui todos à espera da morte. Todos. Atrás de nós deixamos escrito o livro das ânsias.

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Uma resposta a Húmus, de Raul Brandão, 1917

  1. mar aravel diz:

    Não há morte
    nem princípio

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