Deste Lado do Mar Vermelho, de Sónia Cravo. Apresentação no Museu do Vinho de Anadia.
Na terra do Além-Cá não existem egípcios. Este é um livro sobre o medo. Sobre o medo infantil, o medo sentido por um grupo de miúdos, inculcado por um adulto para os manter confinados à sua casa. Um espaço exíguo e fechado.
O medo quando nasce, começa por ser infantil e depois cresce, ganha asas, corpo e rosto de monstro e a partir desse momento a nossa vida enche-se de egípcios.
Existe quem se refugie num espaço confinado e se feche à chave para escrever poesia. Custódio escreve poesia em cadernos quadriculados.
Mas não, não me peçam que suporte
O peso de uma cidade inteira sobre mim.
Os espaços apertados aproximam, ajudam-nos a suportar em conjunto os nossos medos. Somos então uma família unida por essa perceção.
Temos a ideia de que a distância nos afasta dos nossos sonhos, da nossa liberdade e da nossa felicidade.
Deus está no céu e a solução da crise ao fim de um longo túnel. Mas, é do lado de cá, do lado onde nos encontramos, que temos de combater os nossos medos e construir o nosso futuro.
Da imensidão apenas se alimentam os sonhos.
Deste lado do mar vermelho é o lado certo. Não precisamos de emigrar. Este livro não é sobre o medo, é de combate.
A escrita da Sónia Cravo atinge, neste seu segundo romance, uma vincada maturidade. Pressente-se uma inquietude que alimenta esta escrita e a impele para ambientes de loucura e do fantástico, à ousadia e ao risco, como só a grande literatura se atreve. Uma autora a seguir atentamente.