O autor sobe ao púlpito e agradece a distinção que lhe foi atribuída. Adianta-nos que não vai falar da obra galardoada mas do seu trabalho. Decide então contar-nos uma história do seu bisavô, homem austero que vivia no Alentejo e que perante as modernices de Lisboa (ou dos seus subúrbios), mantinha uma prudente reserva, recusando qualquer adesão ao seu fascínio. Os mais novos, perante a obstinação do idoso, rejubilavam com a possibilidade de o irritar com algumas diabruras.
O público fica suspenso, será que vamos escutar mais uma história “de como fui marcado pelo meu avô”? A expectativa é imediatamente ultrapassada. Um momento de magia está prestes a acontecer: o mais banal estribilho, repetido até à exaustão por todos os efémeros candidatos a vedetas da TV, está prestes a transformar-se numa história que, por palavras simples e numa singela imagem repescada da infância, nos transmite uma lição de vida e de como o autor constrói o seu olhar sobre as coisas que vai narrando. A nossa memória coletiva alimenta-se de momentos assim.
Bruno Vieira Amaral foi galardoado com o prémio ficção 2016-2017 do Festival Literário de Fátima, Tabula Rasa, com a sua obra hoje estarás comigo no paraíso.
Como membro do júri coube-me a honra de apresentar a justificação do prémio; ao autor endereço os meus sinceros parabéns.
O júri da edição 2016-2017, da esquerda para a direita: António José Borges (Poesia), António Ganhão (Ficção), Luís Lóia (Filosofia) e Miguel Real (Vida e Obra).
Fátima, 18 de Novembro de 2017.
Muito bem meu caro!