Eis um breve extracto da apresentação de José Luís Outono na Biblioteca Municipal do Barreiro no dia 28 de Setembro.O António Ganhão é um provocador nato. E acima de tudo é meticuloso nessa provocação. Ao exercer esse acto, age como jogador de xadrez profissional, porque adivinha e brinca com as jogadas seguintes.
É essa forma de escrita, que atrai. E, muitas vezes, quando até julgamos que o autor está a ir para lá do permitido, o autor brinda-nos com citações bíblicas…provocadoras também do nosso entendimento.É neste ponto crucial, que a dureza cénica de algumas mortes, se assume com beleza, porque é uma moral que se ganha ao determinar a sua extinção. E o preciosismo detalhado da sua execução, na escrita da DESILUSÃO DE JUDAS é fabuloso.
E é assim, que na contracapa, apesar de revelar um pouco desta acção narradora…provoca o leitor em mais uma soberba reflexão:
– “se todos os tontos escrevessem um diário o mundo seria um local mais tranquilo…”
É este exercício, que António Ganhão narra com factos tão reais, como a história natural do colega reformado com um problema de crédito…o gerente bancário que procura interferir no processo…as escapadelas do Calçadas e, a mulher que desliza em propostas de fim de tarde…
Enfim, o pecado existente e, a tentativa de o anular. Como? Com um labirinto muito bem gizado e uma narrativa tensa, por vezes dura…mas atraente.
Meticuloso e programador de jogadas literárias, António Ganhão gosta de partir do desencontro para o encontro. Gosta de purificar. Depurar em atitudes o grosso do impossível. Inverter a pirâmide em sucessivos degraus de anulações até chegar ao absoluto e estritamente necessário. António Ganhão em “A DESILUSÃO DE JUDAS”, mostra exactamente esse pendor da sua veia criativa. Não é um matador por raiva…é um purificador, por reflexão, que até tem alguns laivos de requinte na execução. Mas deixo ao cuidado do leitor a sua descoberta, seguro que no final, a hipotética desilusão, não desilude.
José Luís Outono
Olha que bem que ficou este lugar.